Introdução[4]
Falar em brincadeira geralmente nos conduz para uma interpretação do
oposto à coisa séria, o oposto às tarefas de adulto. Mas seriam dois mundos
opostos? O mundo da criança onde predominam a ilusão e a fantasia? E o mundo do
adulto, regido pela realidade da razão, pela lógica real, pelo mundo da
verdade?
Até quando se diz que brincadeira é coisa séria, esta dualidade, mundo
da criança (da lógica dos desejos) versus mundo dos adultos (da lógica da
razão) se faz presente. Quando se fala “agora acabou a hora da
brincadeira”, geralmente se refere a uma ação meramente lúdica, engraçada, que
separa a criança das suas práticas sociais e culturais, como se as brincadeiras
infantis não tivessem seus propósitos e não fossem coordenadas por uma lógica real,
isto é, como se as crianças não produzissem conhecimentos nos tempos espaços do
brincar.
Não existe brincadeira sem organização e sem motivo. A situação
imaginária que permeia as atividades lúdicas tem uma lógica, mesmo não sendo
formal, ou seja, não sendo previamente estabelecida e planejada.
Segundo Vygotsky, no jogo e no brincar, a criança consegue submeter-se
às regras como fonte de prazer. Esse autocontrole interno sobre o conflito,
entre o seu desejo e a regra da brincadeira, é uma aquisição básica para o
nível da sua ação real, isto é, as atividades lúdicas têm implicações no
processo de desenvolvimento das funções psicológicas superiores das crianças:
aspectos intelectuais, bem como dos aspectos emocionais e sociais.
Em relação à alfabetização, para Vygotsk, a brincadeira também contribui
para o desenvolvimento da língua escrita na medida em que a simbolização do
jogo abre espaço para a expressão gráfica, seja por meio do desenho, seja por
meio da escrita propriamente dita.
Se alfabetizar é ampliar as possibilidades de relação com o mundo
(relação interpsiquica), e, se a brincadeira contribui para a internalização do
mundo (relação intrapsiquica), não podemos dissociar brincadeira de
alfabetização.
Ao compreendermos que brincar faz parte do jogo
da vida, e que precisamos levar essa vida, com toda a sua brincadeira,
perceberemos que o jogo de aprender brincando diminui o abismo que separa o
mundo adulto do infantil. Precisamos descobrir o prazer que permeia as
diferentes situações de ensino aprendizagem, enfim, gostar de ensinar e
aprender por meio de diferentes e diversas brincadeiras. Na alfabetização,
precisamos brincar com as letras e com as palavras.
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[1]Coordenadora
Pedagógica do CAEPE, Mestre em Educação/UFES.
[2]Doutora
em Educação/UFES.
[3]Professora
do CAEPE
[4]Artigo
Publicado no Caderno Pedagógico intitulado DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM: Desafios Cotidianos e
Alternativas Pedagógicas.