Este artigo é uma continuidade das questões apresentadas em "Projeto de Estudos: Implicações no processo de formação da consciência crítica".
Na tentativa de demarcar uma nova proposta de organização do trabalho pedagógico, bem como de romper com as proposições ora intituladas de projetos de trabalho e/ou pedagogia de projetos, alguns teóricos vêm indicando a sequência didática, como forma de organização do trabalho a ser realizado no lócus da escola.
Nesse sentido concebem o projeto e a sequência
didática como propostas diferentes.
Observamos também, proposições de organização do
trabalho pedagógico por meio de projetos como sinônimo de sequência didática.
Assim, temos nos deparado com propostas ora
intituladas de sequência didática, ora de projeto didático, e, ainda em
determinadas situações de atividades.
Percebemos ainda, que dependendo das questões
abordadas, o foco está na técnica realizada, no passo a passo da sequência
didática, e, em outras situações o foco está no processo em si.
Tais práticas evidenciam que os trabalhos propostos
são planejados para as crianças, revelando que as mesmas estão se constituindo
nesse processo como meras executoras.
Buscando refletir sobre essas questões, destacamos
que a sequência didática não está desvinculada do que propomos como projeto de
estudos.
Isso porque, quando se desvincula essas duas
dimensões da organização do trabalho pedagógico, corremos o risco de excluir a
criança do processo de produção, apropriação e objetivação dos conhecimentos,
bem como, de perpetuar as práticas que desconsideram as crianças como sujeitos
de direitos: com direito a vez e voz, com direito de se inserir no processo de
planejamento, implementação e avaliação do trabalho pedagógico.
E ainda, um projeto de estudos requer organização
didática-pedagógica das diferentes e diversas situações de ensino aprendizagem,
visando melhor produção, apropriação e objetivação dos conhecimentos.
Isso quer dizer, que um projeto de estudo,
pressupõe a articulação dos conhecimentos cotidianos e científicos a serem
trabalhados num dado tempo espaço didático-pedagógico.
Para a implementação desses conhecimentos, é
fundamental uma sequência de situações de ensino aprendizagem, que respondam as
questões de estudos do projeto, com vistas a alcançar os objetivos e as metas
planejadas.
Essa sequência de situações de ensino aprendizagem
se revela uma sequência didática, na perspectiva da metodologia de mediação didática-pedagógica
dialógica.
Por isso, torna-se necessário refletir sobre as
especificidades de um projeto de estudos e de uma sequência didática, sem
perder de vista os seus pontos em comum.
Para tanto, destacamos que:
Projeto de Estudos - Constitui uma sequência
de atividades, a serem realizadas no decorrer de um dado período,
visando produção, apropriação e objetivação dos diferentes conhecimentos
planejados, implementados e avaliados de forma compartilhada com e pela
comunidade escolar.
Sequência Didática - Constitui parte do
projeto de estudos, tendo em vista a importância de o mesmo ser organizado numa
sequência de atividades envolvendo uma organização didática-pedagógica.
Ao concebermos que a sequência didática é
uma organização do projeto de estudos, devemos considerar que nessa
organização se inserem as questões de estudos, os objetivos, as metas, a
metodologia, as situações de ensino aprendizagem, a avaliação, sempre com a participação
efetiva das crianças nos diferentes tempos espaços de planejamento,
implementação e avaliação dos estudos realizados.
Vale ressaltar que o sentido de atividade nesse
contexto, não significa tarefa escolar. Concebemos a atividade como prática
social e cultural.
Uma atividade é uma possibilidade de viver
experiências diversas que promovam a compreensão dos conhecimentos estudados,
e, para tanto, exige produção, apropriação e objetivação desses conhecimentos.
Uma atividade exige interação entre o “eu e o
outro”, exige interlocução, pressupõe experiência concreta e compartilhada. Uma
atividade pressupõe necessidade real, objetivo real, motivo real. Enfim,
pressupõe interlocutor real.
Nesse sentido, para a implementação de um projeto
de estudos, é importante a realização de diferentes e diversas atividades,
que por sua vez exigem ser vivenciadas por meio de significativas sequências
didáticas, cujo passo a passo constituem as situações de ensino
aprendizagem.
Como podemos ver, não dá para considerar a sequência
didática e o projeto de estudo de forma dicotômica, e, nem, como sinônimos, mas,
como dimensões da organização do trabalho pedagógico que se articulam de forma
dialética.
As sequências didáticas promovem a implementação
das atividades a serem vivenciadas no decorrer de um projeto de estudo.
Isso porque, o projeto de estudo, exige
significativas atividades organizadas numa sequência didática, de forma que se
garanta coerência entre os conhecimentos a serem discutidos num processo de
interlocução entre os mesmos com o currículo vivido (vida real).
Pois bem, ao considerarmos a sequência didática
como parte que integra o projeto de estudos, devemos reconhecer a importância
da participação das crianças no decorrer do planejamento, implementação e
avaliação da mesma, (planejamento coletivo).
Veja, que nessa metodologia, é importante
reconhecer as reais necessidades e interesses das crianças, com vistas à
aprendizagem significativa.
Tais questões revelam que não é prudente planejar
uma sequência didática para as crianças atuarem como meras executoras.
Não dá para desvincular as atividades e as
situações de ensino aprendizagem a serem vivenciadas das reais necessidades das
crianças com as quais estamos trabalhando.
Isso quer dizer, que na organização do trabalho
pedagógico por meio de projetos de estudos, os conhecimentos a serem
organizados numa sequência didática, precisam ser discutidos, refletidos e
analisados coletivamente, de forma que as crianças e a comunidade escolar
aprendam a consensuar e externar as suas ideias, desejos e reais necessidades.
E ainda, não basta estarmos atentos apenas ao/no
processo, é fundamental estabelecermos metas, no sentido de garantir resultados
importantes.
Esses resultados constituem a objetivação dos
conhecimentos produzidos e apropriados no lócus da escola (conhecimentos
científicos) em consonância com o cotidiano das práticas sociais e culturais da
comunidade (conhecimentos cotidianos).
Essa proposta insere a professora e/ou o professor como
autoridades no processo de ensino aprendizagem, no sentido de ensinar, mediar,
delegar funções com/entre as crianças, com/entre a comunidade escolar, enfim, coordenar
todo o processo com a seriedade que requer o rigor sem perder a delicadeza do
humano, do amor e da inclusão de todas e todos, inclusive de si mesma/mesmo.
[1] Artigo publicado no Blog Cantinho de Estudo em novembro/2012
[2] Mestre em Educação/UFES, Orientadora Educacional, Consultora Educacional, Escritora, Palestrante
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